Carrefour diz que frigoríficos voltaram a fornecer carne ao grupo, depois de pedido de desculpa de CEO

Empresas do setor decidiram boicotar rede de supermercado após presidente do Carrefour Global dizer que deixaria de comprar o produto brasileiro para abastecer...

Carrefour diz que frigoríficos voltaram a fornecer carne ao grupo, depois de pedido de desculpa de CEO
Carrefour diz que frigoríficos voltaram a fornecer carne ao grupo, depois de pedido de desculpa de CEO (Foto: Reprodução)

Empresas do setor decidiram boicotar rede de supermercado após presidente do Carrefour Global dizer que deixaria de comprar o produto brasileiro para abastecer suas lojas francesas. Vitrine com carnes brasileiras em loja do grupo francês Carrefour, em Curitiba/PR RODOLFO BUHRER/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO O Carrefour Brasil disse que os frigoríficos voltaram a fornecer, nesta terça-feira (26), carne aos supermercados do grupo, que engloba também o Atacadão e Sam's Club. Em nota, a empresa disse que espera ser reabastecida nos próximos dias. O g1 apurou que a JBS e a Masterboi voltaram a comercializar carnes para as lojas da rede. A retomada acontece depois de o presidente da empresa, Alexandre Bompard, enviar uma carta ao ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, com um pedido de desculpas por ter publicado um comunicado afirmando que deixaria de importar carnes do Mercosul, bloco econômico Mercosul é formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Na publicação, feita no dia 20 de novembro, Bompard disse que o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul poderia "inundar" a França "com carne que não atende às suas exigências e normas". Já na carta de desculpas desta terça, ele diz: "Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor". Carrefour x Mercosul: o que dizem a retratação do CEO e a carta que deu origem à polêmica Mercosul X UE O comunicado do CEO boicotando a carne do Mercosul aconteceu em meio a protestos de produtores rurais franceses contrários ao acordo comercial entre União Europeia e Mercosul. Ele direcionou a carta a um grande sindicato francês, a Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores, mas acabou criando uma crise comercial com a América do Sul. Os produtores rurais europeus temem que, com o acordo, as mercadorias sul-americanas fiquem mais baratas no bloco, reduzindo a competitividade dos produtos europeus. Como resposta a Bompard, frigoríficos brasileiros decidiram boicotar, na quinta-feira (21), o fornecimento de carnes da rede de supermercados no Brasil. Foi o que fizeram a JBS, Minerva e a Masterboi. Segundo o Carrefour Brasil, seus clientes foram impactados pela ação. ENTENDA: acordo comercial está por trás da tensão entre a Europa e o agro brasileiro ➡️A carta que gerou polêmica O texto publicado por Bompard, na semana passada, não especificava se o Carrefour pararia de comprar carne do Mercosul apenas para as suas lojas francesas ou para as todas as unidades em que a empresa tem negócios. Também não especificava a quantidade de carne que o Carrefour França comprava do Mercosul. Questionada pelo g1, a companhia explicou que a decisão só era válida para a França e que quase 100% da proteína vendida nos mercados franceses são fornecidas por produtores europeus. ➡️O que gerou a fúria do agro e do Ministério da Agricultura Um dia depois da declaração do CEO, começou o boicote dos frigoríficos. O movimento recebeu apoio do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que explicou que o que incomodou foi o Bompard ter questionado "qualidade sanitária das carnes brasileiras". Isso porque, em sua primeira carta, o CEO disse que havia um "risco" de a França ser inundada "com carne que não atende às suas exigências e normas". 'Estou feliz', diz ministro da Agricultura sobre suspensão de venda de carne para o Carref “Não é pelo boicote econômico. O problema é a forma com que o CEO do Carrefour tratou, o primeiro parágrafo da carta, da manifestação dele, que fala com relação à qualidade sanitária das carnes brasileiras, que é inadmissível falar”, afirmou o ministro, em entrevista à Globonews. Nesta terça-feira, após boicotes, o CEO afirmou: "Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor". A nota do Carrefour, emitida pela assessoria de imprensa do grupo, reforçou que a companhia conhece "melhor do que ninguém os padrões que a carne brasileira atende, sua alta qualidade e seu sabor". O Carrefour afirmou, também, que nunca opôs a agricultura francesa à agricultura brasileira. "Os nossos dois países do coração têm em comum o amor à terra, à sua cultura e à boa comida". Entenda o que fez os frigoríficos brasileiros pararem de vender carne ao Carrefour CEO de uma das maiores produtoras de açúcar do mundo diz que acordo entre Mercosul e União Europeia vai gerar 'concorrência desleal' 'Agora volta tudo ao normal' Após o pedido de desculpas, Fávaro disse ao blog do Valdo Cruz que classificou a retratação como uma "vitória" do Brasil. Frisou que o país sai "fortalecido para negociações como a do acordo Mercosul e União Europeia". "Agora, tudo volta ao normal", disse. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) espera que, com isso, as operações da rede francesa sejam reestabelecidas. "A agroindústria no Brasil recebe com satisfação o pedido de desculpas e o reconhecimento da excelência do produto e do produtor brasileiro por parte do CEO Global do Carrefour, Alexandre Bompard", disse a Abiec, em nota. Carta de retratação do CEO do Carrefour "Ao Excelentíssimo Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Senhor Carlos Fávaro, A declaração de apoio do Carrefour França aos produtores agrícolas franceses causou discordâncias no Brasil. Como Diretor-Presidente do Grupo Carrefour e amigo de longa data do país, venho, respeitosamente, esclarecê-la. O Carrefour é um grupo descentralizado e enraizado em cada país onde está presente, francês na França e brasileiro no Brasil. Na França, o Carrefour é o primeiro parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo. A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais Do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim. São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produtores conhecemos. O Grupo Carrefour Brasil é profundamente brasileiro, com mais de 130.000 colaboradores, se desenvolveu e continua se desenvolvendo sob minha presidência em parceria com produtores e fornecedores do Brasil, valorizando o trabalho do setor produtivo e sempre em benefício de nossos clientes. Nos últimos anos, o Grupo Carrefour Brasil acelerou seu desenvolvimento, dobrando tanto o volume de seus investimentos no país quanto suas compras da agricultura brasileira. Mais amplamente, o Brasil é o país em que o Carrefour mais investiu sob minha presidência, o que confirma nossa ambição e nosso comprometimento com o país. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil. Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas. O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos. Asseguro, Senhor Ministro, nosso compromisso de longo prazo ao lado da agricultura e dos produtores brasileiros. Aproveito a oportunidade para renovar os protestos de estima e consideração. Atenciosamente, Alexandre Bompard, Diretor-Presidente do Grupo Carrefour"