Café: baixa oferta global, demanda externa firme e real desvalorizado explicam exportações em alta, aponta Esalq-USP

Embarques brasileiros somam 22 milhões de sacas nos primeiros 5 meses da safra 2024/2025. Volume escoado representa metade da quantidade embarcada na temporada...

Café: baixa oferta global, demanda externa firme e real desvalorizado explicam exportações em alta, aponta Esalq-USP
Café: baixa oferta global, demanda externa firme e real desvalorizado explicam exportações em alta, aponta Esalq-USP (Foto: Reprodução)

Embarques brasileiros somam 22 milhões de sacas nos primeiros 5 meses da safra 2024/2025. Volume escoado representa metade da quantidade embarcada na temporada anterior. Café arábica Ari Melo As exportações brasileiras dos cafés arábica e robusta somam 22 milhões de sacas de 60 quilos cada nos primeiros cinco meses da safra 2024/2025. O desempenho positivo na temporada atual é resultado da combinação de fatores como baixa oferta global do produto, demanda externa firme e dólar valorizado frente ao real, segundo análise dos pesquisadores do Cepea o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), campus da USP em Piracicaba (SP).☕ Entenda cenário, abaixo, na reportagem. O volume escoado no início da safra corresponde a quase metade da quantidade embarcada em toda a temporada anterior, de 2023/24, de acordo com dados do Cecafé, analisados pelo Cepea e divulgados em boletim desta última quarta-feira (18). 📲Participe do canal do g1 Piracicaba no WhatsApp O dólar fechou em alta em junho deste ano, no fim dos primeiros cinco meses de safra do café, encerrando o primeiro semestre de 2024 com valorização de mais de 15%. Na época, era cotado a R$ 5,5884. A moeda americana chegou ao maior patamar desde 10 de janeiro de 2022 (R$ 5,6742). O ano de 2024 foi de grande desvalorização das maiores moedas do mundo diante do dólar. E, entre as moedas mais negociadas, a que mais se desvalorizou até agora em 2024 foi o real brasileiro. Preço do café aumenta mais de 32% nos últimos 12 meses 📈Maior patamar desde 1998 A oferta limitada do café no mercado doméstico e no Vietnã fez os preços dos cafés robusta e arábica registrarem altas de até 100% neste ano, segundo o Cepea. As cotações seguem firmes nas regiões produtoras de São Paulo e do Espírito Santo. No posto na capital paulista, o preço do café arábica, tipo 6, opera acima dos R$ 1.800 a saca de 60 de quilos, conforme aponta o Indicador Cepea/Esalq. Esse é o maior patamar real atingido desde 27 fevereiro de 1998, segundo os pesquisadores do setor. Oferta restrita e negociação fechada O aumento é de quase 80% se considerado o acumulado deste ano. Segundo pesquisadores do Cepea, a elevação no preço do arábica se deve à oferta restrita da variedade e ao alto percentual de café já negociado pelos produtores. "Vale lembrar que a safra 2024/25 não foi tão volumosa. Além disso, agentes seguem atentos ao desenvolvimento da próxima temporada 2025/26; as condições mais debilitadas de grande parte das plantas podem resultar em oferta abaixo do esperado no ano que vem", destaca o Cepea. No Espírito Santo, o Indicador Cepea/Esalq do robusta tipo 6 no Espírito Santo, renovou o recorde real da série histórica do Cepea, iniciada em novembro de 2001. Na parcial deste ano, a modalidade do café registrou valorização de mais de 100%. "A alta está atrelada à oferta limitada da variedade no Vietnã e no Brasil, além dos maiores preços do arábica. Outubro de queda Depois de superar os preços do café arábica, o mais consumido no Brasil, por duas vezes neste ano devido ao clima seco, a previsão de chuvas mais abundantes a partir na segunda quinzena de outubro alteraram cenário e fizeram as cotações do café robusta voltarem a cair no cinturão produtor em São Paulo e Minas Gerais, o que não ocorria desde o final de agosto. - Leia mais, abaixo. "Os preços do café robusta vêm caindo com força, voltando a fechar abaixo do arábica o que não acontecia desde o final de agosto/24. [...] A pressão sobre os valores está atrelada à previsão de chuvas mais expressivas para o cinturão cafeeiro brasileiro a partir da segunda semana de outubro", observa o Cepea em boletim. Safra 2025/2026 preocupa Pesquisadores do Cepea, afirmam que o início da safra brasileira 2025/2026 é preocupante nas áreas de ambas as variedades, devido ao cenário climático de tempo seco e sucessivas ondas que calor entre agosto e outubro deste ano. Situação precária Pesquisadores do Cepea reforçam, porém, que, no geral, a condição das lavouras, devido às queimadas e falta de chuvas registradas entre agosto e setembro, é tão precária que dificilmente haverá uma recuperação total para a próxima temporada. "Estas precipitações são muito aguardadas pelo setor, já que as lavouras estão em forte déficit hídrico, sendo necessários floração e pegamento mais robustos para a produção da safra 2025/26", completa. Segunda alta em setembro Após superar a variedade arábica pela primeira vez em sete anos e pela segunda vez na história, o preço do café robusta teve nova alta, essa segunda de 100%, em menos de um ano. O clima seco e quente e problemas no fluxo de mercadorias no mundo são apontados como causas para a alta. Alta de 100% do café robusta De acordo com o Indicador Cepea/Esalq, a saca de 60kg da variedade fechou em R$ 1.500 em outubro, o que representa uma alta de 100% frente ao valor de R$ 740 da saca registrada no último trimestre de 2023. Segundo pesquisadores do Cepea, um dos motivos para a alta de preços do café robusta é o clima adverso, que além de prejudicar a safra brasileira, também deve influenciar negativamente a produção no Vietnã, país considerado o maior produtor mundial da variedade. “Além disso, foram verificados problemas com o fluxo de mercadorias através do globo (que encarece o frete e atrapalha os envios da Ásia para a Europa)”, aponta o centro de estudos da USP. Café robusta Globo Rural/Tv Globo 1ª vez em sete anos Pela primeira vez em mais de sete anos, e pela segunda vez na história dos levantamentos da Esalq-USP, o preço do café robusta ficou acima da variedade arábica, no comparativo dos indicadores. Entre os motivos da mudança está o clima quente e com poucas chuvas enfrentado por Brasil e Vietnã, principais produtores das variedades. No Brasil, segundo especialista do setor, entrevistado pelo g1, nesta segunda-feira (2), dois terços da produção é de café arábico e um terço é de café robusta. - 📝Leia mais na reportagem, abaixo. Recorde histórico De acordo com o Indicador Cepea/Esalq, o café robusta fechou o último dia 30 a um valor de R$ 1.483,95 na saca de 60 kg, o que representa um avanço de 16,73% em agosto e um recorde histórico da série de levantamentos iniciada pelo centro de estudos em 2021. O valor da saca do robusta, pelo Indicador do Café Arábica Cepea - Esalq, é de R$ 35,71 a mais do que café arábica, comercializado na mesma data a R$ 1.448,24 saca com alta de 2,3% no acumulado do mês. Segundo o Cepea, a única vez que a variedade robusta superou a arábica foi há mais de sete anos, entre outubro de 2016 e janeiro de 2017. Entretanto, naquele período, a maior diferença de preços entre as variedades, registrada no dia 3 de janeiro de 2017, foi de R$ 20. “Isso significa que o robusta nunca esteve tão mais caro que o arábica”, aponta o Cepea. Produção de café enfrenta problemas por conta seca Reprodução/EPTV Indicadores O Indicador do Café Arábica Cepea/Esalq refere-se a sacas de 60 quilos líquido, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, valor descontado o Prazo de Pagamento pela taxa CDI, posto na cidade de São Paulo. Já o Indicador do Café Robusta Cepea/Esalq refere-se a sacas de 60 quilos líquido, à vista, tipo 6, peneira 13 acima, com 86 defeitos, valor descontado o Prazo de Pagamento pela taxa CDI, a retirar na origem, no Espírito Santo. Consumo no mercado interno De acordo com o pesquisador Renato Garcia Ribeiro, responsável pela área de café no Cepea, ambas as variedades são usadas na mistura para consumo no mercado interno. “Esse café que nós consumimos diariamente, que nós passamos no coador de filtro de papel, que nós compramos no mercado, ele é um blend (mistura) de café arábica e robusta. No Brasil, dois terços da produção é de café arábico e um terço é de café robusta”, afirma. No Brasil, dois terços da produção é de café arábico e um terço é de café robusta, diz pesquisador da Esalq-USP Adobe Stock O pesquisador explica que o Brasil é o maior produtor do mundo na soma das variedades arábica e robusta e também o maior produtor somente de arábica. Já o Vietnã, é o maior produtor da variedade robusta. “Tanto Brasil como Vietnã vêm sofrendo com problemas climáticos, o Vietnã na produção desse ano deve ter uma quebra principalmente por causa do calor e da falta de chuvas e o Brasil já vem há algumas safras registrando dificuldades em termos de produção. Esse ano mesmo esperava-se mais, mas, em função do calor principalmente, o volume produzido deve ser inferior ao que se esperava anteriormente. Tudo isso tem levado a um aumento de preços”, aponta Ribeiro. De acordo com o pesquisador do Cepea, uma vez que Brasil e Vietnã são os principais produtores, qualquer cenário climático adverso e qualquer problema de produção nesses países gera um impacto de preço. O especialista aponta ainda que, nos últimos anos, os estoques mundiais têm sido apertados, o que gera uma crise entre oferta e demanda, acarretando alta de preços. Após superar variedade arábica pela segunda vez na história, café robusta tem alta de 100% em menos de um ano, aponta USP Claudia Assencio/g1 Por que o preço do café robusta sempre foi menor? Renato Garcia Ribeiro explica que o preço do café robusta sempre foi menor que o do arábica porque o primeiro, geralmente, é utilizado nos blends e pouco consumido sozinho, as exceções são os cafés solúveis. Mas, por conta da restrição de oferta, principalmente pelo impacto da produção no Vietnã, os preços da variedade robusta vêm subindo no mercado internacional. “Vale ressaltar que problemas de fluxo logístico mundial de navios tem encarecido bastante o transporte e além disso o envio de café para a Europa (a União Europeia é o segundo maior bloco consumidor do mundo, o principal são os EUA). Isso fez com que esses problemas de encarecimentos de frete e essa dificuldade logística de enviar produto da Ásia para a Europa, aumentasse demais a exportação do café robusta brasileiro, que geralmente é quase todo consumido no mercado interno”, diz o pesquisador. Pesquisadores afirmam que o início da safra brasileira 2025/2026 é preocupante nas áreas de ambas as variedades, devido ao cenário de tempo seco e quente Claudia Assencio/g1 Ajuste de blends A curto prazo, o pesquisador espera que, para lidar com os preços, indústria realize um “ajuste de blends”. O que possui limite. “O que a gente espera a curto prazo e já está acontecendo por parte da indústria é um ajuste de blends quanto à proporção de arábica e robusta. Isso tem um limite, senão a empresa acaba mudando o padrão de sabor do café e pode ser que, caso haja mais altas isso possa ser repassado ao consumidor final, mas isso vai depender muito do que vai acontecer para frente”, completa. Frutos de café arábica da variedade Bourbon Marcos Serra Lima VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região Veja mais notícias da região no g1 Piracicaba