Após ser boicotado por frigoríficos, Carrefour se retrata e 'pede desculpas' ao Brasil

Carrefour Brasil começou a sofrer boicote de grandes frigoríficos após CEO global afirmar que iria interromper compra de carne do Mercosul. Carrefour recua e...

Após ser boicotado por frigoríficos, Carrefour se retrata e 'pede desculpas' ao Brasil
Após ser boicotado por frigoríficos, Carrefour se retrata e 'pede desculpas' ao Brasil (Foto: Reprodução)

Carrefour Brasil começou a sofrer boicote de grandes frigoríficos após CEO global afirmar que iria interromper compra de carne do Mercosul. Carrefour recua e diz que vai mantar compra de carne do Brasil O texto publicado por Bompard, na semana passad não explicava para quais países essa medida era válida e nem especificava a quantidade de carne que o O Grupo Carrefour disse, nesta terça-feira (26), que reconhece a "grande qualidade" da carne do Brasil e faz uma retração após o CEO global da rede, Alexandre Bompard, ter dito que a empresa ia parar de comprar carne do Mercosul. Ainda nesta terça, o Ministério da Agricultura informou ter recebido uma carta assinada pelo próprio executivo. Nela, Bompard diz: "pedimos desculpas" (veja íntegra abaixo). No dia 20 de novembro, o CEO publicou uma carta em suas redes sociais, direcionada a um sindicato agrícola francês, assumindo o compromisso de interromper a venda de carne de países sul-americanos. A fala repercutiu mal no Brasil e grandes frigoríficos nacionais passaram a boicotar o Carrefour, interrompendo a venda de carne a lojas do grupo no país. No início da tarde desta terça, após a retratação do CEO, a rede de supermercados informou que os frigoríficos voltaram a fornecer o produto para a rede. Também durante a tarde, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, publicou uma carta direcionada às entidades do agro, afirmando que espera "que a partir desta retratação", "a situação volte à normalidade". Ele afirmou ainda que é preciso trabalhar "sempre no intuito de esclarecer os fatos e não deixar que declarações equivocadas deturpem a verdade." ➡️A carta que gerou polêmica Na semana passada, Bompard publicou uma carta anunciado a interrupção de compra de carne de países sul-americanos, em meio a protestos de produtores rurais franceses contrários ao acordo comercial entre União Europeia e Mercosul. Eles temem que, com esse tratado, os produtos sul-americanos fiquem mais barato no bloco, reduzindo a competitividade das mercadorias europeias. O texto publicado por Bompard, na semana passada, não explicava em quais países essa medida era válida e nem especificava a quantidade de carne que o Carrefour França comprava do Mercosul. Questionada pelo g1, a companhia explicou que a decisão só era válida para a França e que quase 100% da proteína vendida nos mercados franceses são fornecidas por produtores europeus. Na nota publicada nesta terça-feira (26), o Carrefour Global reforçou que essa política será mantida na França. "A decisão do Carrefour França não tem como objetivo mudar as regras de um mercado francês já amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais. Ela visa garantir legitimamente aos agricultores franceses, que enfrentam uma grave crise, a continuidade do nosso apoio e de nossas compras locais", disse. "Do outro lado do Atlântico, compramos quase toda a nossa carne brasileira no Brasil e continuaremos a fazê-lo", afirmou. "Lamentamos que nossa comunicação tenha sido percebida como uma contestação de nossa parceria com a agricultura brasileira e uma crítica a ela". Entenda o acordo que gera tensão entre a Europa e o agro brasileiro ➡️O que gerou a fúria do agro e do Ministério da Agricultura A fala de Bompard, na semana passada, desencadeou uma série de boicotes de frigoríficos brasileiros à rede Carrefour, e ao Atacadão e Sam's Club, que também fazem parte do grupo. Um dia depois da declaração do CEO, grandes empresas, como a JBS e Minerva, além da Masterboi, boicotaram o fornecimento de carne à empresa. O movimento recebeu apoio do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que explicou que o que incomodou foi o Bompard ter questionado "qualidade sanitária das carnes brasileiras". Isso porque, em sua primeira carta, o CEO disse que havia um "risco" de a França ser inundada "com carne que não atende às suas exigências e normas". 'Estou feliz', diz ministro da Agricultura sobre suspensão de venda de carne para o Carref “Não é pelo boicote econômico. O problema é a forma com que o CEO do Carrefour tratou, o primeiro parágrafo da carta, da manifestação dele, que fala com relação à qualidade sanitária das carnes brasileiras, que é inadmissível falar”, afirmou o ministro, em entrevista à Globonews. Nesta terça-feira, após boicotes, o CEO afirmou: "Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor". A nota do Carrefour nesta terça-feira (26) reforçou que o grupo conhece "melhor do que ninguém os padrões que a carne brasileira atende, sua alta qualidade e seu sabor". O Carrefour afirmou, também, que nunca opôs a agricultura francesa à agricultura brasileira. "Os nossos dois países do coração têm em comum o amor à terra, à sua cultura e à boa comida". 'Agora volta tudo ao normal' Após o pedido de desculpas, Fávaro disse ao blog do Valdo Cruz que classificou a retratação como uma "vitória" do Brasil. Frisou que o país sai "fortalecido para negociações como a do acordo Mercosul e União Europeia". "Agora, tudo volta ao normal", disse. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) espera que, com isso, as operações da rede francesa sejam reestabelecidas. "A agroindústria no Brasil recebe com satisfação o pedido de desculpas e o reconhecimento da excelência do produto e do produtor brasileiro por parte do CEO Global do Carrefour, Alexandre Bompard", disse a Abiec, em nota. Vitrine com carnes brasileiras em loja do grupo francês Carrefour, em Curitiba/PR RODOLFO BUHRER/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO Carta de retratação do CEO do Carrefour "Ao Excelentíssimo Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Senhor Carlos Fávaro, A declaração de apoio do Carrefour França aos produtores agrícolas franceses causou discordâncias no Brasil. Como Diretor-Presidente do Grupo Carrefour e amigo de longa data do país, venho, respeitosamente, esclarecê-la. O Carrefour é um grupo descentralizado e enraizado em cada país onde está presente, francês na França e brasileiro no Brasil. Na França, o Carrefour é o primeiro parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo. A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais. Do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim. São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produtores conhecemos. O Grupo Carrefour Brasil é profundamente brasileiro, com mais de 130.000 colaboradores, se desenvolveu e continua se desenvolvendo sob minha presidência em parceria com produtores e fornecedores do Brasil, valorizando o trabalho do setor produtivo e sempre em benefício de nossos clientes. Nos últimos anos, o Grupo Carrefour Brasil acelerou seu desenvolvimento, dobrando tanto o volume de seus investimentos no país quanto suas compras da agricultura brasileira. Mais amplamente, o Brasil é o país em que o Carrefour mais investiu sob minha presidência, o que confirma nossa ambição e nosso comprometimento com o país. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil. Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas. O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos. Asseguro, Senhor Ministro, nosso compromisso de longo prazo ao lado da agricultura e dos produtores brasileiros. Aproveito a oportunidade para renovar os protestos de estima e consideração. Atenciosamente, Alexandre Bompard, Diretor-Presidente do Grupo Carrefour"